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Violência contra jornalistas diminui em 2024, mas FENAJ alerta: censura e assédio judicial estão em alta

Apesar da redução no número de casos, a violência contra jornalistas no Brasil segue em um patamar preocupante. É o que revela o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2024, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), que registrou 144 casos de agressões, o menor número desde 2018, representando uma queda de 20,44% em relação a 2023, quando foram contabilizados 181 casos.

A presidenta da FENAJ, Samira de Castro, destaca que a redução numérica não significa um ambiente mais seguro para o exercício do jornalismo. “Os ataques continuam, mas se tornam mais sofisticados e perigosos. Estamos vivendo uma transição da violência física para formas estruturais de silenciamento, como o assédio judicial e a censura”, afirmou.

A avaliação é compartilhada pelo pesquisador Rogério Christofoletti, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores da Secretaria Nacional de Justiça/Ministério da Justiça e Segurança Pública. “O número de casos é menor que o do ano passado, mas ainda é maior que 2018, o que mostra uma resistência da violência contra os profissionais. O governo violento de Bolsonaro acabou mas não conseguimos baixar de um certo patamar. Em 2018 foram 135. Essa resistência pode sugerir que a violência esteja sedimentada na sociedade, e é preciso fazermos mais pra reduzir esses números”, afirma.

Tipos de violência

Entre os tipos de violência mais recorrentes, o relatório aponta um crescimento proporcional do assédio judicial, que passou de 13,81% dos casos em 2023 para 15,97% em 2024, totalizando 23 registros. A FENAJ destaca que o termo “cerceamento por meio de ação judicial” foi substituído por “assédio judicial” para explicitar o caráter abusivo e recorrente dessas ações, muitas vezes promovidas por políticos, empresários e lideranças religiosas, com o objetivo de intimidar e censurar jornalistas.

Outro dado preocupante é o crescimento de 120% nos casos de censura, que saltaram de 5 para 11 episódios no período, impulsionados sobretudo por decisões judiciais e pressões de agentes públicos. “A censura está se institucionalizando, muitas vezes por vias legais, o que torna o cenário ainda mais grave”, disse Samira.

Já os casos de agressões físicas caíram de 40 para 30 registros, uma redução de 25%. Apesar disso, a FENAJ alerta que os episódios continuam sendo alarmantes, incluindo tentativas de homicídio e ataques com arma de fogo. As ameaças e intimidações, por sua vez, somaram 35 ocorrências, o equivalente a 24,31% do total, mantendo-se estáveis em números absolutos.

Durante o período eleitoral de 2024, que vai de maio a outubro, foi registrado o maior número de ataques: 38,9% dos casos ocorreram nesse intervalo, com julho sendo o mês mais violento do ano. A entidade atribui esse aumento ao acirramento do discurso de ódio, em especial promovido por grupos de extrema direita.

Regiões e estados mais violentos

A Região Sudeste concentrou o maior número de casos de violência contra jornalistas em 2024, com 38 episódios, que representam 26,39% do total. O Nordeste apareceu em segundo lugar, com 36 casos, representando 25% do total. Juntas, essas duas regiões
responderam por mais de 51% dos episódios registrados no Relatório. Em termos absolutos, houve crescimento do número de casos nas regiões Norte (que passou de 19 para 22 casos) e Sul, com 31 casos, contra 30 no relatório anterior.

A maior redução foi registrada no Centro-Oeste, que caiu de 40 para 17 casos. A queda é expressiva, mas há suspeitas de subnotificação, já que parte dos ataques pode não ter sido reportada aos sindicatos. Nos anos anteriores, a região — especialmente o Distrito Federal — havia liderado o ranking nacional, impactada por ataques verbais e simbólicos institucionalizados durante o governo de Jair Bolsonaro.

No Nordeste, os casos caíram de 45 para 36, mas a participação percentual nacional aumentou ligeiramente. A Bahia foi novamente o estado com mais registros (nove), seguida de Alagoas e Paraíba (seis casos cada). O Maranhão teve quatro registros, mas um deles foi dos mais graves do ano: um incêndio criminoso à sede da TV Cidade, em Codó, e ameaça de morte a um repórter. Ceará e Pernambuco apresentaram três ocorrências cada — metade dos números de 2023. Rio Grande do Norte e Piauí tiveram dois casos, e Sergipe, apenas uma.

O Sudeste continua concentrando o maior número absoluto de casos: 38 no total. São Paulo lidera com 23 ocorrências, respondendo por 60,5% da região e quase 16% do total nacional. A maior parte dos ataques ocorreu fora da chamada “grande mídia”, em cidades menores. O Rio de Janeiro teve nove casos, Minas Gerais, cinco, e o Espírito Santo, apenas um.

No Sul, o número subiu levemente: de 30 para 31. O Paraná teve o maior salto, de 11 para 15 casos, e passou a responder por 10,42% dos casos nacionais. Rio Grande do Sul e Santa Catarina registraram oito ocorrências cada, sendo que SC teve um caso a mais que no ano anterior.

A Região Norte, que no ano anterior era a menos violenta para jornalistas, passou de 19 para 22 casos. O Amazonas lidera com 8 registros, seguido do Pará (seis), Tocantins (três), Acre e Rondônia (dois cada) e Roraima (um). O Amapá não teve ocorrências registradas, mas há possibilidade de subnotificação. O Pará mostrou uma queda consistente desde 2022, quando teve 21 casos, sugerindo um avanço na proteção à categoria.

Embora haja sinais de melhora em algumas regiões, os dados reforçam que a liberdade de imprensa continua sob risco em diferentes partes do Brasil. “A descentralização dos ataques – que agora atingem com mais frequência jornalistas de veículos locais – revela um cenário onde o trabalho jornalístico permanece vulnerável, sobretudo em contextos políticos polarizados. É essencial fortalecer os mecanismos de denúncia, proteção e responsabilização para que a democracia não continue sendo ameaçada pela intimidação e violência contra quem informa a sociedade”, pontua a presidenta da FENAJ.

Quem são os agressores

Para não fugir à regra, os políticos continuam disparados no ranking dos maiores agressores de jornalistas e à liberdade de imprensa no país. Em 2024, foram 48 episódios que envolveram agressões físicas e verbais, tentativas de intimidação, ofensas em atos públicos de campanha, tentativas de censura a matérias e assédio judicial, um dos itens
que mais cresceu no último período.

A esses 48 agressores políticos, que representaram 33,33% de todos os ataques,
acrescente -se apoiadores diretos (cinco ocorrências), manifestantes de extrema direita (seis casos) e servidores públicos ou órgãos como Prefeitura e Governo de Estado (nove casos), que, em última análise, estão a serviço de interesses de políticos.

Para o secretário de Saúde e Segurança da FENAJ, Norian Segatto, “o relatório evidencia um padrão ideológico entre os agressores: mais de 40% dos ataques partiram de setores da direita e extrema direita, com políticos, assessores e apoiadores figurando como os principais autores das violências”.

Violência por gênero

A violência de gênero é outro ponto de atenção. Jornalistas mulheres não aparecem como alvos preferenciais (numericamente), mas são vítimas de ataques misóginos, incluindo insultos, desqualificações profissionais e ameaças simbólicas. “O machismo e a misoginia se somam ao autoritarismo para tentar silenciar as vozes femininas no jornalismo”, pontuou a presidenta da FENAJ.

Em 2024, foram registradas 81 vítimas do sexo masculino, 47 do sexo feminino, e 26 casos configurados como ataques coletivos ou contra profissionais de maneira genérica em uma determinada mídia. Percentualmente, 52,60% dos registros tiveram como alvo jornalistas do sexo masculino, 30,52% mulheres, e 16,86% dos casos foram ataques coletivos ou em que não foi possível apurar o gênero. Nenhum ataque a jornalistas trans foi relatado.

Cenário internacional

No cenário internacional, a situação também é alarmante. Em 2024, 122 jornalistas foram assassinados em todo o mundo, com a maioria das mortes ocorrendo na Faixa de Gaza, em meio à ofensiva israelense contra o povo palestino. O relatório também alerta para os riscos à liberdade de imprensa com a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o papel das big techs na disseminação de desinformação e na tolerância a projetos autoritários.

Para a FENAJ, os dados exigem atenção e ação imediata. “A liberdade de imprensa é uma condição para a democracia, os direitos humanos e a soberania nacional. Não podemos tratar a redução de casos como sinal de estabilidade. A luta agora é contra novas formas de censura que se disfarçam de legalidade”, concluiu Samira de Castro.

A entidade reforça a necessidade de garantir salários dignos, segurança no trabalho e combate sistemático aos discursos de ódio, especialmente com a aproximação do próximo ciclo eleitoral em 2026.

Desigualdades nos estudos da Comunicação marginalizam os países do Sul Global

Texto: Sofia Zizza*
Jornal da USP

Mesmo com a crescente internacionalização das pesquisas em comunicação e maior diversificação das localidades geográficas em que estes estudos são produzidos, ainda há uma supremacia de publicações dos países ocidentais do Hemisfério Norte. O fato da língua inglesa ser idioma universal das pesquisas acadêmicas comprova esse ponto, promovendo uma marginalização dos acadêmicos do Sul Global, é o que afirma o pesquisador Silvio Waisbord, docente da George Washington University, nos Estados Unidos.

A discussão está no artigo Como enfrentar as desigualdades da academia global nos estudos de comunicação? Colaborações, críticas e curiosidades, que Silvio escreveu para o dossiê especial que compõe o 3° número do 17° volume da revista MATRIZes. A partir de análises das principais questões sobre a temática, o artigo propõe uma reflexão crítica e estratégias práticas para um maior reconhecimento e participação dos países do sul no meio acadêmico. Dentre elas, pode-se citar a consolidação de espaços de reconhecimento e apoio, o cultivo de redes de colaboração e pesquisa, e a participação em espaços compartilhados.

A invisibilidade do Sul

Silvio Waisbord, professor da George Washington University – Foto: Reprodução/Orbicom
Silvio Waisbord, professor da George Washington University – Foto: Reprodução/Orbicom
Em diálogo com diversos autores, Waisbord faz um panorama da hegemonia do Norte na academia nos estudos de comunicação. Ele afirma que mesmo com a globalização e a internacionalização do campo de estudo nas últimas décadas, “nenhum país da América Latina, África ou Oriente Médio está entre os primeiros vinte países, em termos de gastos com ciência e pesquisa, mundialmente”.

Os estudos de comunicação da América Latina revelam muitos vestígios de uma posição dominante da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Isso se evidencia através de modelos e referências que são importados e adaptados à realidade do Sul Global. De acordo com o autor e com base em outros estudos analisados para produzir o artigo, “o metabolismo constante de ideias ‘estrangeiras’ produziu uma rica tradição híbrida, impulsionada pelo interesse em peneirar bagagens teóricas e debates do Norte Global de acordo com interpretações e apropriações locais e regionais”.

No âmbito internacional das pesquisas, há uma série de normas a serem seguidas como forma de padronização. Dentre elas, a necessidade de apresentar os trabalhos na língua inglesa. “Essas dinâmicas explicam a longa história de ideias e questionamentos sobre a descolonização intelectual e acadêmica”, afirma o pesquisador.

Mudanças necessárias

Mapa ilustra o conceito de Norte e Sul Global utilizado pelo autor – Imagem: Reprodução/ Suporte Geográfico
De acordo com o estudo, há indícios de uma integração maior dos países do Sul no mundo acadêmico. Essa integração se dá por meio da inclusão de pesquisadores em corpos editoriais e a tradução de pesquisas para outros idiomas, além do inglês. No entanto, as desigualdades ainda são existentes e ações para mudanças estruturais devem ser pensadas para alterar esse cenário. “Não é algo que se resolve com cotas de representação”, pondera o autor.

O autor utiliza o conceito de descolonização como um motivador para tais mudanças. “As desigualdades da academia global estão enraizadas na história do colonialismo intelectual”, afirma Waisbord e lembra que qualquer mudança exige um trabalho de longo prazo. “Implica em mudar o centro institucional global dos estudos de comunicação”, diz.

De acordo com sua reflexão, é necessário “convocar ações conjuntas em várias direções e instâncias, e reconhecer que os obstáculos estão fundamentados em desigualdades econômicas e políticas”. Waisbord considera ainda a falta de curiosidade por estudos realizados nos países do Sul, por epistemologias alternativas e por diferentes tradições intelectuais, além da necessidade de priorizar a integração e o nivelamento de oportunidades ao Sul Global, de forma a reconhecer sua importância para o meio acadêmico.

Descolonial e decolonial: tem diferença?

De forma geral, o termo “descolonial” é aquele que se refere ao colonialismo, palavra que faz jus ao período histórico de colonização. Já “decolonial” se refere à colonialidade, conceito que parte da premissa de que, mesmo que o colonialismo tenha terminado, há a continuidade do poder colonial e, portanto, existe a necessidade de um movimento teórico-político de contraposição. Em que pese essa diferença, ainda há autores e tradutores que tratam os termos como sinônimos.

A decolonialidade é uma escola de pensamento utilizada primordialmente por intelectuais e ativistas latino-americanos. Seu objetivo consiste em criticar a visão eurocêntrica dos fatos e afastar-se dela, contrapondo-se à sua hegemonia e a universalidade que lhe é atribuída.

A pesquisadora e professora Catherine Walsh, da Universidade Andina Simón Bolívar, no Equador, explica que o termo propõe a exclusão do “s” pretendendo estabelecer uma distinção entre o significado do “des” da língua espanhola, que pode ser entendido como simplesmente “desmontar” ou “desfazer” o colonial. Tal significado permite a interpretação de que existem dois momentos, um colonial e outro não, o que leva ao entendimento de que os padrões e traços do colonialismo deixaram de existir. O termo colonialidade, por outro lado, entende e lida com a herança colonial existente, reforçando a necessidade de disputas contínuas em diversos campos para superá-la de fato.

A partir da análise e crítica a diversos autores, o estudo propõe um “Mapa de Ações” para mitigar as desigualdades geográficas existentes no âmbito acadêmico. Ele sugere três rotas possíveis que se complementam.

A primeira rota consiste em “consolidar espaços de reconhecimento e apoio”. Nela o autor sugere a participação dos chamados “acadêmicos do Sul” em diferentes plataformas e organizações, a fim de marcar sua presença, afirmando a importância de seu trabalho. A segunda rota trata da relação com colaboradores. É proposta a criação de laços com outros pesquisadores e instituições, de forma a facilitar a comunicação, desenvolver projetos em comum e conseguir apoios. Por fim, a terceira rota aconselha a participação em espaços compartilhados, tais como corpos editoriais e lideranças de associações.

Revista MATRIZes

MATRIZes é a revista científica do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Lançada em 2007, a revista é uma publicação quadrimestral que publica estudos de diferentes perspectivas no campo da comunicação. Aberto a reflexões sobre tecnologias, culturas e linguagens midiáticas, o periódico é dirigido pela professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes.

O Dossiê especial Histórias da internacionalização do campo de estudos da comunicação é o terceiro volume de 2023 da revista e conta com artigos de pesquisadores de universidades brasileiras, bem como de outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa.

*Texto de Sofia Zizza, do LAC – Laboratório Agência de Comunicação. Editado por Tabita Said.
**Estagiário sob supervisão de Simone Gomes

Greve geral de jornalistas em Portugal: como reagir à precarização!

Raphaelle Batista
Jornalista, doutoranda do PPGJOR/UFSC e pesquisadora do objETHOS

No último dia 14 de março, jornalistas de Portugal fizeram a primeira greve geral da categoria em mais de 40 anos. A última paralisação desse porte no país lusitano foi em 1982. Agora, em 2024, o Sindicato dos Jornalistas conseguiu aprovar a greve por unanimidade, após assembleia realizada em janeiro, contando com uma expressiva adesão dos/as profissionais. De acordo com a entidade, pelo menos 36 veículos de imprensa interromperam o funcionamento a partir da meia-noite daquela quinta-feira, incluindo a agência de notícias Lusa, as rádios Antena 1 e TSF, além dos jornais centenários Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Pelo menos outras 12 empresas funcionaram parcialmente naquele dia –– caso das redações de Público e Expresso, que cobriram a paralisação.

Antes mesmo do “dia D”, redações viram a rotina mudar com a antecipação de fechamento de jornais, convites antecipados para gravações e trocas de turnos, apesar do alerta do Sindicato de que o empregador não poderia substituir funcionários em greve ou apelar a outros esquemas para limitar os impactos da paralisação. Ainda assim, centenas de jornalistas participaram de protestos em algumas das principais cidades portuguesas, como Lisboa, Porto e Coimbra, com o apoio de trabalhadores de outros setores. Também houve adesão de correspondentes internacionais em Madri, Paris e Rio de Janeiro, além de freelancers.

Algumas insatisfações dos colegas portugueses são bastante conhecidas dos jornalistas brasileiros: baixos salários, precariedade, degradação das condições de trabalho e insegurança. Entre os onze pontos da pauta reivindicatória, eles cobram, por exemplo, reposição salarial acima da inflação de 2022, pagamento de insalubridade e de horas extras, e denunciam que há estagiários recebendo 150 euros por mês e freelancers, 20 euros por artigo. Neste episódio do Podcast diário P24, do Público, seis profissionais relatam a situação que os levou a aderir à greve e explicam por que o movimento fortalece não apenas os jornalistas, mas toda a sociedade.

É claro que a greve não se desenhou da noite para o dia. Desde o ano passado, os jornalistas vêm se mobilizando depois da crise instaurada na gigante da comunicação portuguesa Global Media Group (GMG), que ameaçou demitir cerca de 200 funcionários, atrasou salários e teve de parcelar o pagamento do bônus de natal que deveria ter sido efetuado em dezembro. Vale dizer que, conforme noticiou o Poder 360, a GMG é dona de muitos dos mais importantes veículos de imprensa de Portugal – entre os quais alguns dos citados no início deste texto – e essas empresas estão na liderança da audiência no país, segundo agências especializadas.

A ameaça é geral
Quando nos referimos à realidade brasileira, que em vários aspectos é muito diferente da portuguesa, já estamos quase acostumados a associar precarização a jornalismo. Há algum tempo esse triste dado da profissão vem sendo tema de artigos, livros, teses e dissertações de investigadores brasileiros; tem ganhado destaque em relatórios de pesquisa e, não raro, é abordado em diversos textos publicados aqui mesmo no objETHOS, há anos ou só algumas semanas atrás. Mas não é privilégio nosso, nem de Portugal.

Também nos Estados Unidos o momento não é dos melhores. Em janeiro deste ano, foram demitidos de uma só vez 115 jornalistas do Los Angeles Times – dos quais 60 profissionais negros e jovens – e, além de todos os efeitos já sabidos de um “passaralho”, a situação levantou um debate sobre como os cortes podem afetar a diversidade das redações. Agora é a vez do The Boston Globe (GBH), um dos diários de maior circulação dos EUA, anunciar a possibilidade de demissões.

O que fazer diante de um cenário que, aparentemente, só se agrava e do qual os trabalhadores parecem reféns? Há quem desista da profissão, quem troque o fazer notícia por alternativas dentro do próprio campo da comunicação – embora isso não signifique estar livre da lógica perversa de exploração e insegurança laboral – e há quem siga no jornalismo, acreditando que a mobilização coletiva ainda é o caminho para garantir dignidade e, simultaneamente, bom jornalismo.

Segundo dados da última edição do Perfil do Jornalista Brasileiro (2021), pouco mais de 9% dos respondentes disseram que migraram para outras áreas. São pessoas que agora atuam como empresários, astrólogos, bombeiros ou com tecnologia, odontologia, direito, para citar alguns exemplos. Feito eu, certamente você deve conhecer alguém brilhante que, em algum momento após experimentar os reveses da precariedade a que chegamos, não viu futuro no jornalismo e foi buscar outros caminhos.

No caso daqueles que permanecem a bordo do imenso navio da comunicação, de acordo com a mesma pesquisa, 39% atuam majoritariamente com marketing, assessoria de imprensa ou de comunicação, publicidade, comunicação interna/corporativa, audiovisual e editoração. Também se destaca o número de pessoas que afirmam ser funcionário/servidor público.

Para os que seguem atuando como jornalistas no Brasil, ainda segundo o relatório, os dados não são animadores. Embora a maioria (45,8%) tenha como principal vínculo empregatício a carteira assinada (CLT), somente 40,1% dos respondentes recebem mensalmente o suficiente para arcar com as despesas do mês, enquanto para 23,9%, isso só é possível “às vezes”. Os pesquisadores do Perfil do Jornalista Brasileiro( 2021) destacam o percentual de 36,1% que não conseguem pagar as contas com a renda mensal vinda do jornalismo.

No Brasil, todos os anos, os sindicatos de jornalistas país afora encampam campanhas salariais, vão às mesas de negociações com os patrões, tentam mobilizar os profissionais e, em alguns casos, até conseguem aprovar greves. Este ano, inclusive, tentando uma abordagem diferente, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) lançou uma Campanha Salarial Nacional Unificada, a fim de reforçar a unidade da categoria.

No entanto, apesar da absoluta importância da luta sindical, como podemos ver no exemplo português, os jornalistas brasileiros ainda se mantêm distantes da luta coletiva da categoria. O Perfil revela que 68,6% dos respondentes declararam não ter filiação a nenhum sindicato, contra 31,4% de respondentes com filiação sindical – acima da taxa nacional de sindicalização, que é de 11,2%, de acordo com dados do IBGE (2020). Entre as razões para o alto número de jornalistas não sindicalizados (entre os quais me incluo), chamam atenção a mera falta de interesse, o desconhecimento sobre o sindicato e a avaliação de que as diretorias não representam a categoria. Sejam quais forem os motivos, porém, diante de uma perspectiva tão desafiadora para os trabalhadores do jornalismo, talvez seja hora de rever o aparente conformismo ante a precarização e, coletivamente, também reagir.

Publicado originalmente em https://objethos.wordpress.com/2024/04/01/greve-geral-de-jornalistas-em-portugal-como-reagir-a-precarizacao/

Carta aberta dos jornalistas da Tribuna de Minas e da Rádio Transamérica à direção do Grupo Solar de Comunicação

Caros integrantes da direção do Grupo Solar de Comunicação (Rede Tribuna de Comunicação),

 

Nós, jornalistas da Tribuna de Minas e da Rádio Transamérica Juiz de Fora aqui subscritos, vimos por meio desta carta expressar nossa preocupação com o longo processo em curso de precarização das atividades jornalísticas no jornal e na rádio.

 

Convivemos, sim, em um mercado em transformação permanente e, desde o advento da internet, cada vez mais desafiador. O modelo de financiamento do jornalismo não é mais o mesmo, ainda que novas possibilidades continuem surgindo.

 

Nas redações, novas práticas demandadas por novas plataformas multimídia exigem um profissional de perfil cada vez mais inovador, criativo, tecnológico e, sobretudo, disposto a enfrentar mais tarefas e uma jornada diária mais longa.

 

A lógica da instantaneidade alterou a temporalidade das transmissões da notícia, que é redigida, editada e publicada a todo momento. Todo esse incessante trabalho é realizado por equipes cada vez menores e com baixa remuneração.

 

Especificamente em relação ao Grupo Solar de Comunicação, a situação foi agravada com o pedido de recuperação judicial, que implicou em restrições em todas as áreas, sobretudo no que diz respeito às relações trabalhistas.

 

Nos últimos anos, os jornalistas da Tribuna de Minas e da Rádio Transamérica Juiz de Fora acompanharam de forma compreensiva os desdobramentos das muitas crises em curso. As conversas com a direção do grupo foram e continuam pautadas pelo bom senso.

 

O que motiva esta carta é o fato de a situação ter chegado ao limite, implicando em desdobramentos indesejáveis para o exercício da atividade jornalística, com repercussões para os leitores do jornal e os ouvintes da rádio.

 

Para além de reafirmamos nosso incansável compromisso profissional, manifestamos nossa preocupação com a manutenção do modelo de relação trabalhista pautado unicamente pela lógica da redução de custo, que nos trouxe até aqui.

 

A negociação do acordo coletivo de trabalho atualmente em curso é o retrato fiel desse modelo aviltante. Em resposta às demandas para, ao menos, retomarmos o padrão remuneratório pré-2019, a direção do grupo impôs um incremento mínimo no vale alimentação e o reajuste de 5% nos salários com defasagem acumulada de 22%.

 

Reconhecemos uma vez mais as muitas adversidades do atual fazer jornalismo no mundo. O fato de nossa atividade estar em constante transformação também impõe – ou deveria impor – o desafio de se repensar as relações de trabalho.

 

Nunca foi tão imprescindível cultivar o bom jornalismo, o que sempre foi a marca do Grupo Solar de Comunicação e que, lamentavelmente, está se perdendo.

Jornalistas de Juiz de Fora iniciam campanha salarial 2023/2024

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora convoca os jornalistas que prestam serviços nas empresas de comunicação com produção de notícias no município para a assembleia geral que aprovará a pauta de reivindicações da Campanha Salarial 2023/2024. A data-base da categoria é em 1º de maio.

 

O Sindicato realizará assembleia na sua sede no centro de Juiz de Fora (Confira o edital)