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Comissão Eleitoral homologa Chapa 1 para eleições do Sindicato

A Comissão Eleitoral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora homologou, em reunião realizada no dia 6 de junho de 2025, a inscrição da Chapa 1 – “Sindicato na luta pelo jornalismo e pela democracia!”, que concorrerá às eleições sindicais marcadas para os dias 15 e 16 de julho.

A Chapa 1 reúne profissionais de diversas áreas do jornalismo local e propõe uma atuação comprometida com a defesa dos direitos da categoria, a valorização do trabalho jornalístico e o fortalecimento da democracia. A eleição definirá a nova diretoria do Sindicato para o próximo triênio.

Confira a composição da Chapa 1:

Diretoria Executiva:

Presidente: Bruno Ribeiro

Vice-Presidente: Leonardo Costa

Secretário-Geral: Maycon Chagas

1ª Secretária: Priscilla Chandretti

2º Secretário: Ricardo Miranda

1ª Tesoureira: Juliana Duarte

2ª Tesoureira: Mariana Floriano

Suplentes:

Anna Virgínia Nascimento Silva

Luiz Felipe Falcão

Cristiane Hubner

Jorge Júnior

Hugo Netto

Isaac Balassiano

Gabriel Silva

A Comissão Eleitoral reforça a importância da participação de todos os jornalistas sindicalizados no processo eleitoral e lembra que o voto é um instrumento fundamental para a construção de uma entidade representativa e atuante.

Outras informações sobre o processo eleitoral serão divulgadas nos canais oficiais do Sindicato.

Sindicato divulga edital e convoca eleições para nova Diretoria, Conselho Fiscal e Comissão de Ética

A Comissão Eleitoral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora (SJPJF) anunciou a realização das eleições sindicais para os dias 15 e 16 de julho de 2025, com o objetivo de renovar a Diretoria, o Conselho Fiscal e a Comissão de Ética da entidade para o triênio 2025-2028.

O pleito ocorrerá de forma presencial e direta, na sede do Sindicato (Rua Halfeld, 805, sala 603), das 9h30 às 16h30, e será aberto a todos os jornalistas sindicalizados que estiverem com as obrigações estatutárias em dia, conforme os critérios estabelecidos no Estatuto do SJPJF. A apuração dos votos será feita logo após o encerramento da votação.

O período para inscrição de chapas e candidaturas avulsas vai de 3 a 10 de junho de 2025. Os interessados devem enviar a documentação digitalizada para o e-mail sindicatojf@gmail.com, com o assunto devidamente identificado conforme a função a que concorrem. A efetivação do registro será feita posteriormente, em reunião presencial, mediante apresentação dos documentos originais.

A Comissão Eleitoral reforça que só poderão votar os associados que tenham, no mínimo, seis meses de filiação, estejam em dia com as mensalidades e no pleno gozo dos direitos sindicais.

Cronograma do processo eleitoral:

  • De 3 a 10 de junho: inscrição de chapas e candidaturas avulsas

  • 11 de junho: prazo final para pedidos de impugnação

  • 15 e 16 de julho: realização das eleições

 

Confira o edital completo aqui!

3º Prêmio APRE Florestas de Jornalismo traz como tema Florestas Plantadas e Tecnologia

A Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas) lança a terceira edição do Prêmio APRE Florestas de Jornalismo, iniciativa que reconhece e estimula a cobertura jornalística de excelência sobre o setor florestal.

Com o tema “Florestas Plantadas e Tecnologia”, a edição 2025 coloca em destaque a inovação e os avanços tecnológicos aplicados a uma das atividades mais relevantes para a economia e sustentabilidade do estado.

O presidente da APRE Florestas, Fabio Brun, ressalta a importância da premiação. “A imprensa desempenha um papel fundamental na promoção da economia verde, que engloba o setor florestal, incentivando debates sobre o desenvolvimento dessa atividade econômica e suas contribuições para a sociedade”, assinala.

O prêmio é aberto para jornalistas de todo o Brasil, mas com a temática centrada no estado do Paraná, e contempla três categorias: reportagem escrita (jornais, revistas, sites, portais e blogs), de áudio (rádios e podcasts) e de vídeo (TVs, sites e plataformas de compartilhamento de vídeo). As inscrições são gratuitas e podem ser feitas a partir do dia 30 de maio até 20 de outubro de 2025. Serão aceitas matérias veiculadas entre 1º de novembro de 2024 e 20 de outubro de 2025.

A premiação ocorrerá durante o jantar anual da APRE, marcado para 28 de novembro de 2025, em Curitiba (PR). Além de premiar os três melhores trabalhos por categoria, o concurso também prevê uma Menção Honrosa concedida pela Embrapa Florestas para reportagens que abordem temas ligados à ciência, pesquisa e instituições acadêmicas, reforçando a importância da conexão entre conhecimento científico e prática florestal.

Inovação e impacto socioambiental

A proposta do tema desta edição reflete a crescente importância das florestas plantadas como recurso renovável e matéria-prima para diversos setores, como móveis, construção civil, energia, higiene, papel e celulose.

Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que o Brasil está entre os dez países com maior área de florestas plantadas no mundo, com cerca de 10 milhões de hectares. Nesse cenário, o Paraná é protagonista: é o maior produtor de pinus do país e responde por 20% da madeira produzida nacionalmente.

Mais do que uma atividade econômica robusta, o setor florestal paranaense também é destaque em conservação ambiental. Empresas associadas à APRE conservam 564 mil hectares de florestas nativas e mantêm 79,1% de suas áreas certificadas, atestando práticas sustentáveis em toda a cadeia produtiva.

Como participar

Podem concorrer ao prêmio reportagens que explorem temas como bioeconomia, inovação, sustentabilidade, geração de emprego e renda, arquitetura com madeira engenheirada, cadeias produtivas, entre outros (confira no edital). Cada jornalista poderá inscrever até cinco trabalhos por categoria, desde que respeitados os critérios do regulamento.

As inscrições devem ser enviadas para o e-mail , acompanhadas de ficha com dados pessoais e profissionais, resumo da matéria e link ou PDF da publicação, conforme previsto no edital. Não serão aceitos conteúdos patrocinados ou publicados em veículos ligados a instituições acadêmicas, entidades de classe ou órgãos governamentais.

Serviço

3º Prêmio APRE Florestas de Jornalismo

Inscrições: de 30 de maio a 20 de outubro de 2025

Período de veiculação das matérias: de 1º de novembro de 2024 a 20 de outubro de 2025

Categorias: Reportagem escrita, de áudio e de vídeo
Premiação em cada categoria: R$ 3.500,00 + certificado + troféu (1º lugar); R$ 2.000,00 + certificado + troféu (2º lugar); Leitor digital de livro + certificado + troféu (3º lugar).

Mais informações: www.apreflorestas.com.br

Sobre a APRE Florestas

A Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas) representa aproximadamente metade da área total de plantios comerciais no estado. As principais organizações de ensino e pesquisa formam o conselho científico da APRE, conferindo à entidade representatividade e embasamento técnico para o desenvolvimento das ações em prol do setor florestal. Desde 1968, a atuação política, apartidária, faz da APRE a porta-voz do setor no diálogo com as esferas públicas, organizações setoriais, formadores de opinião e sociedade no desafio de promover e fortalecer ações produtivas do setor florestal paranaense.

Mais informações em https://apreflorestas.com.br/

Violência contra jornalistas diminui em 2024, mas FENAJ alerta: censura e assédio judicial estão em alta

Apesar da redução no número de casos, a violência contra jornalistas no Brasil segue em um patamar preocupante. É o que revela o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2024, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), que registrou 144 casos de agressões, o menor número desde 2018, representando uma queda de 20,44% em relação a 2023, quando foram contabilizados 181 casos.

A presidenta da FENAJ, Samira de Castro, destaca que a redução numérica não significa um ambiente mais seguro para o exercício do jornalismo. “Os ataques continuam, mas se tornam mais sofisticados e perigosos. Estamos vivendo uma transição da violência física para formas estruturais de silenciamento, como o assédio judicial e a censura”, afirmou.

A avaliação é compartilhada pelo pesquisador Rogério Christofoletti, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores da Secretaria Nacional de Justiça/Ministério da Justiça e Segurança Pública. “O número de casos é menor que o do ano passado, mas ainda é maior que 2018, o que mostra uma resistência da violência contra os profissionais. O governo violento de Bolsonaro acabou mas não conseguimos baixar de um certo patamar. Em 2018 foram 135. Essa resistência pode sugerir que a violência esteja sedimentada na sociedade, e é preciso fazermos mais pra reduzir esses números”, afirma.

Tipos de violência

Entre os tipos de violência mais recorrentes, o relatório aponta um crescimento proporcional do assédio judicial, que passou de 13,81% dos casos em 2023 para 15,97% em 2024, totalizando 23 registros. A FENAJ destaca que o termo “cerceamento por meio de ação judicial” foi substituído por “assédio judicial” para explicitar o caráter abusivo e recorrente dessas ações, muitas vezes promovidas por políticos, empresários e lideranças religiosas, com o objetivo de intimidar e censurar jornalistas.

Outro dado preocupante é o crescimento de 120% nos casos de censura, que saltaram de 5 para 11 episódios no período, impulsionados sobretudo por decisões judiciais e pressões de agentes públicos. “A censura está se institucionalizando, muitas vezes por vias legais, o que torna o cenário ainda mais grave”, disse Samira.

Já os casos de agressões físicas caíram de 40 para 30 registros, uma redução de 25%. Apesar disso, a FENAJ alerta que os episódios continuam sendo alarmantes, incluindo tentativas de homicídio e ataques com arma de fogo. As ameaças e intimidações, por sua vez, somaram 35 ocorrências, o equivalente a 24,31% do total, mantendo-se estáveis em números absolutos.

Durante o período eleitoral de 2024, que vai de maio a outubro, foi registrado o maior número de ataques: 38,9% dos casos ocorreram nesse intervalo, com julho sendo o mês mais violento do ano. A entidade atribui esse aumento ao acirramento do discurso de ódio, em especial promovido por grupos de extrema direita.

Regiões e estados mais violentos

A Região Sudeste concentrou o maior número de casos de violência contra jornalistas em 2024, com 38 episódios, que representam 26,39% do total. O Nordeste apareceu em segundo lugar, com 36 casos, representando 25% do total. Juntas, essas duas regiões
responderam por mais de 51% dos episódios registrados no Relatório. Em termos absolutos, houve crescimento do número de casos nas regiões Norte (que passou de 19 para 22 casos) e Sul, com 31 casos, contra 30 no relatório anterior.

A maior redução foi registrada no Centro-Oeste, que caiu de 40 para 17 casos. A queda é expressiva, mas há suspeitas de subnotificação, já que parte dos ataques pode não ter sido reportada aos sindicatos. Nos anos anteriores, a região — especialmente o Distrito Federal — havia liderado o ranking nacional, impactada por ataques verbais e simbólicos institucionalizados durante o governo de Jair Bolsonaro.

No Nordeste, os casos caíram de 45 para 36, mas a participação percentual nacional aumentou ligeiramente. A Bahia foi novamente o estado com mais registros (nove), seguida de Alagoas e Paraíba (seis casos cada). O Maranhão teve quatro registros, mas um deles foi dos mais graves do ano: um incêndio criminoso à sede da TV Cidade, em Codó, e ameaça de morte a um repórter. Ceará e Pernambuco apresentaram três ocorrências cada — metade dos números de 2023. Rio Grande do Norte e Piauí tiveram dois casos, e Sergipe, apenas uma.

O Sudeste continua concentrando o maior número absoluto de casos: 38 no total. São Paulo lidera com 23 ocorrências, respondendo por 60,5% da região e quase 16% do total nacional. A maior parte dos ataques ocorreu fora da chamada “grande mídia”, em cidades menores. O Rio de Janeiro teve nove casos, Minas Gerais, cinco, e o Espírito Santo, apenas um.

No Sul, o número subiu levemente: de 30 para 31. O Paraná teve o maior salto, de 11 para 15 casos, e passou a responder por 10,42% dos casos nacionais. Rio Grande do Sul e Santa Catarina registraram oito ocorrências cada, sendo que SC teve um caso a mais que no ano anterior.

A Região Norte, que no ano anterior era a menos violenta para jornalistas, passou de 19 para 22 casos. O Amazonas lidera com 8 registros, seguido do Pará (seis), Tocantins (três), Acre e Rondônia (dois cada) e Roraima (um). O Amapá não teve ocorrências registradas, mas há possibilidade de subnotificação. O Pará mostrou uma queda consistente desde 2022, quando teve 21 casos, sugerindo um avanço na proteção à categoria.

Embora haja sinais de melhora em algumas regiões, os dados reforçam que a liberdade de imprensa continua sob risco em diferentes partes do Brasil. “A descentralização dos ataques – que agora atingem com mais frequência jornalistas de veículos locais – revela um cenário onde o trabalho jornalístico permanece vulnerável, sobretudo em contextos políticos polarizados. É essencial fortalecer os mecanismos de denúncia, proteção e responsabilização para que a democracia não continue sendo ameaçada pela intimidação e violência contra quem informa a sociedade”, pontua a presidenta da FENAJ.

Quem são os agressores

Para não fugir à regra, os políticos continuam disparados no ranking dos maiores agressores de jornalistas e à liberdade de imprensa no país. Em 2024, foram 48 episódios que envolveram agressões físicas e verbais, tentativas de intimidação, ofensas em atos públicos de campanha, tentativas de censura a matérias e assédio judicial, um dos itens
que mais cresceu no último período.

A esses 48 agressores políticos, que representaram 33,33% de todos os ataques,
acrescente -se apoiadores diretos (cinco ocorrências), manifestantes de extrema direita (seis casos) e servidores públicos ou órgãos como Prefeitura e Governo de Estado (nove casos), que, em última análise, estão a serviço de interesses de políticos.

Para o secretário de Saúde e Segurança da FENAJ, Norian Segatto, “o relatório evidencia um padrão ideológico entre os agressores: mais de 40% dos ataques partiram de setores da direita e extrema direita, com políticos, assessores e apoiadores figurando como os principais autores das violências”.

Violência por gênero

A violência de gênero é outro ponto de atenção. Jornalistas mulheres não aparecem como alvos preferenciais (numericamente), mas são vítimas de ataques misóginos, incluindo insultos, desqualificações profissionais e ameaças simbólicas. “O machismo e a misoginia se somam ao autoritarismo para tentar silenciar as vozes femininas no jornalismo”, pontuou a presidenta da FENAJ.

Em 2024, foram registradas 81 vítimas do sexo masculino, 47 do sexo feminino, e 26 casos configurados como ataques coletivos ou contra profissionais de maneira genérica em uma determinada mídia. Percentualmente, 52,60% dos registros tiveram como alvo jornalistas do sexo masculino, 30,52% mulheres, e 16,86% dos casos foram ataques coletivos ou em que não foi possível apurar o gênero. Nenhum ataque a jornalistas trans foi relatado.

Cenário internacional

No cenário internacional, a situação também é alarmante. Em 2024, 122 jornalistas foram assassinados em todo o mundo, com a maioria das mortes ocorrendo na Faixa de Gaza, em meio à ofensiva israelense contra o povo palestino. O relatório também alerta para os riscos à liberdade de imprensa com a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o papel das big techs na disseminação de desinformação e na tolerância a projetos autoritários.

Para a FENAJ, os dados exigem atenção e ação imediata. “A liberdade de imprensa é uma condição para a democracia, os direitos humanos e a soberania nacional. Não podemos tratar a redução de casos como sinal de estabilidade. A luta agora é contra novas formas de censura que se disfarçam de legalidade”, concluiu Samira de Castro.

A entidade reforça a necessidade de garantir salários dignos, segurança no trabalho e combate sistemático aos discursos de ódio, especialmente com a aproximação do próximo ciclo eleitoral em 2026.

Desigualdades nos estudos da Comunicação marginalizam os países do Sul Global

Texto: Sofia Zizza*
Jornal da USP

Mesmo com a crescente internacionalização das pesquisas em comunicação e maior diversificação das localidades geográficas em que estes estudos são produzidos, ainda há uma supremacia de publicações dos países ocidentais do Hemisfério Norte. O fato da língua inglesa ser idioma universal das pesquisas acadêmicas comprova esse ponto, promovendo uma marginalização dos acadêmicos do Sul Global, é o que afirma o pesquisador Silvio Waisbord, docente da George Washington University, nos Estados Unidos.

A discussão está no artigo Como enfrentar as desigualdades da academia global nos estudos de comunicação? Colaborações, críticas e curiosidades, que Silvio escreveu para o dossiê especial que compõe o 3° número do 17° volume da revista MATRIZes. A partir de análises das principais questões sobre a temática, o artigo propõe uma reflexão crítica e estratégias práticas para um maior reconhecimento e participação dos países do sul no meio acadêmico. Dentre elas, pode-se citar a consolidação de espaços de reconhecimento e apoio, o cultivo de redes de colaboração e pesquisa, e a participação em espaços compartilhados.

A invisibilidade do Sul

Silvio Waisbord, professor da George Washington University – Foto: Reprodução/Orbicom
Silvio Waisbord, professor da George Washington University – Foto: Reprodução/Orbicom
Em diálogo com diversos autores, Waisbord faz um panorama da hegemonia do Norte na academia nos estudos de comunicação. Ele afirma que mesmo com a globalização e a internacionalização do campo de estudo nas últimas décadas, “nenhum país da América Latina, África ou Oriente Médio está entre os primeiros vinte países, em termos de gastos com ciência e pesquisa, mundialmente”.

Os estudos de comunicação da América Latina revelam muitos vestígios de uma posição dominante da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Isso se evidencia através de modelos e referências que são importados e adaptados à realidade do Sul Global. De acordo com o autor e com base em outros estudos analisados para produzir o artigo, “o metabolismo constante de ideias ‘estrangeiras’ produziu uma rica tradição híbrida, impulsionada pelo interesse em peneirar bagagens teóricas e debates do Norte Global de acordo com interpretações e apropriações locais e regionais”.

No âmbito internacional das pesquisas, há uma série de normas a serem seguidas como forma de padronização. Dentre elas, a necessidade de apresentar os trabalhos na língua inglesa. “Essas dinâmicas explicam a longa história de ideias e questionamentos sobre a descolonização intelectual e acadêmica”, afirma o pesquisador.

Mudanças necessárias

Mapa ilustra o conceito de Norte e Sul Global utilizado pelo autor – Imagem: Reprodução/ Suporte Geográfico
De acordo com o estudo, há indícios de uma integração maior dos países do Sul no mundo acadêmico. Essa integração se dá por meio da inclusão de pesquisadores em corpos editoriais e a tradução de pesquisas para outros idiomas, além do inglês. No entanto, as desigualdades ainda são existentes e ações para mudanças estruturais devem ser pensadas para alterar esse cenário. “Não é algo que se resolve com cotas de representação”, pondera o autor.

O autor utiliza o conceito de descolonização como um motivador para tais mudanças. “As desigualdades da academia global estão enraizadas na história do colonialismo intelectual”, afirma Waisbord e lembra que qualquer mudança exige um trabalho de longo prazo. “Implica em mudar o centro institucional global dos estudos de comunicação”, diz.

De acordo com sua reflexão, é necessário “convocar ações conjuntas em várias direções e instâncias, e reconhecer que os obstáculos estão fundamentados em desigualdades econômicas e políticas”. Waisbord considera ainda a falta de curiosidade por estudos realizados nos países do Sul, por epistemologias alternativas e por diferentes tradições intelectuais, além da necessidade de priorizar a integração e o nivelamento de oportunidades ao Sul Global, de forma a reconhecer sua importância para o meio acadêmico.

Descolonial e decolonial: tem diferença?

De forma geral, o termo “descolonial” é aquele que se refere ao colonialismo, palavra que faz jus ao período histórico de colonização. Já “decolonial” se refere à colonialidade, conceito que parte da premissa de que, mesmo que o colonialismo tenha terminado, há a continuidade do poder colonial e, portanto, existe a necessidade de um movimento teórico-político de contraposição. Em que pese essa diferença, ainda há autores e tradutores que tratam os termos como sinônimos.

A decolonialidade é uma escola de pensamento utilizada primordialmente por intelectuais e ativistas latino-americanos. Seu objetivo consiste em criticar a visão eurocêntrica dos fatos e afastar-se dela, contrapondo-se à sua hegemonia e a universalidade que lhe é atribuída.

A pesquisadora e professora Catherine Walsh, da Universidade Andina Simón Bolívar, no Equador, explica que o termo propõe a exclusão do “s” pretendendo estabelecer uma distinção entre o significado do “des” da língua espanhola, que pode ser entendido como simplesmente “desmontar” ou “desfazer” o colonial. Tal significado permite a interpretação de que existem dois momentos, um colonial e outro não, o que leva ao entendimento de que os padrões e traços do colonialismo deixaram de existir. O termo colonialidade, por outro lado, entende e lida com a herança colonial existente, reforçando a necessidade de disputas contínuas em diversos campos para superá-la de fato.

A partir da análise e crítica a diversos autores, o estudo propõe um “Mapa de Ações” para mitigar as desigualdades geográficas existentes no âmbito acadêmico. Ele sugere três rotas possíveis que se complementam.

A primeira rota consiste em “consolidar espaços de reconhecimento e apoio”. Nela o autor sugere a participação dos chamados “acadêmicos do Sul” em diferentes plataformas e organizações, a fim de marcar sua presença, afirmando a importância de seu trabalho. A segunda rota trata da relação com colaboradores. É proposta a criação de laços com outros pesquisadores e instituições, de forma a facilitar a comunicação, desenvolver projetos em comum e conseguir apoios. Por fim, a terceira rota aconselha a participação em espaços compartilhados, tais como corpos editoriais e lideranças de associações.

Revista MATRIZes

MATRIZes é a revista científica do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Lançada em 2007, a revista é uma publicação quadrimestral que publica estudos de diferentes perspectivas no campo da comunicação. Aberto a reflexões sobre tecnologias, culturas e linguagens midiáticas, o periódico é dirigido pela professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes.

O Dossiê especial Histórias da internacionalização do campo de estudos da comunicação é o terceiro volume de 2023 da revista e conta com artigos de pesquisadores de universidades brasileiras, bem como de outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa.

*Texto de Sofia Zizza, do LAC – Laboratório Agência de Comunicação. Editado por Tabita Said.
**Estagiário sob supervisão de Simone Gomes